segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aécio e seus números! Aparte!!

Aécio e seus números sobre o Brasil
29/08/2011

Na última semana de agosto, o artigo (FSP, 20/08/2011) do senador Aécio Neves faz um exercício primário com números, estabelecendo rankings a torto e a direito, sem qualquer preocupação de correlacioná-los a déficits históricos em termos de política industrial no país, além de políticas de fomento à ciência e tecnologia, qualificação profissional etc. Vale lembrar que a abertura das fronteiras comerciais, no frenesi neoliberal, teve largo impulso com o governo FHC (do qual Aécio foi um dos principais líderes). Isso contribuiu muito para os números que ele agora replica. O sucateamento de universidades e da pesquisa científica também. Dos CEFETs, idem.

Talvez seja por isso que, ao falar de números, os expõe com um padrão de aleatoriedade tal, que reprovaria qualquer estudante de economia do terceiro período da PUC/MG. Mas o nosso bacharel nessa ciência econômica não se preocupa muito, nem com ciência, nem com coerência.

Para não dizer que o Movimento Minas Sem Censura vive de implicâncias com ele, passamos a palavra ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais/FIEMG, Olavo Machado, que em seminário realizado na Assembleia Legislativa mineira, expôs os verdadeiros números da economia regional. Suas palavras iriam provocar um “choque de realidade”, se a imprensa local resolvesse divulgá-los.

Criticando “os discursos grandiosos” sobre a economia mineira, o insuspeito presidente da FIEMG traça um quadro dramático de Minas. Em termos bem sintéticos e esquemáticos, eis o diagnóstico que ele faz do estado governado pelo tucano Aécio Neves, por sete anos e três meses:

 Nos próximos 20 anos, o Mundo e o Brasil crescem, e Minas não está preparada para disputar mercados. Falta investimento em inovação, infraestrutura, logística, em capacitação e formação profissional, ausência de política estadual de crédito etc, que geram perda de competitividade e consolidam nossa dependência da exportação de commodities (minério e produtos agrícolas).

 Das 120 mil empresas industriais do estado, 62 mil “não geram emprego algum na indústria”; 30 mil possuem “de 1 a 4 empregos”; 22 mil tem até 29 empregos formais em cada unidade; em suas palavras “mais de 90% desse universo imenso de empresas não apresenta produtividade, escala e inovação em processos e produtos para operar e concorrer globalmente”. E ressalta que os indicadores da economia brasileira demonstram a ampliação exponencial do consumo de massa, o que exigiria “um efetivo e consistente processo de desenvolvimento econômico e social”, para que Minas disputasse parcela desse mercado emergente.

 A produtividade da “nossa indústria” está 5% abaixo da média brasileira e 20% da paulista, e é inferior à média nacional em 69 setores, sendo que em 25 destes, essa menor produtividade ainda manifesta “comportamento de queda” nos últimos 10 anos. O Valor da Transformação Industrial - VTI - mineiro é 20% inferior à média nacional e 40% menor na relação com São Paulo. As gigantes estatais mineiras (CEMIG, COPASA, CODEMIG) fizeram compras “mínimas ou insignificantes” de fornecedores mineiros. A carga tributária estadual é “excessiva e concentrada”.

Enfim, as propostas da FIEMG para a superação desse quadro poderiam ter sido adotadas há oito anos, impactando a condição atual da competitividade da economia regional: readequação tributária, formação e capacitação profissional, política creditícia, incentivos estaduais e municipais diversos etc. Sua excelência, o senador Aécio Neves, ainda que não seja, de fato, um economista, tinha e tem conhecimento desses números.
Em entrevista à “Mercado Comum”, nº 216, Machado completa:
“Sempre me preocupei com avaliações feitas por média, uma vez que não contemplam toda a verdade dos fatos, inclusive suas distorções. Cada vez mais, devemos nos conscientizar de que são a microeconomia e economia local que nos dão a exata dimensão do que ocorre.”

A propósito, a citada revista tornou público o número da “Dívida Pública Total” do estado: R$ 67.812.919.776,51 em 31/12/2010. Ou seja, um “papagaio” de 68 bilhões que, no calote de informações tucano, são excluídos dos balanços políticos de seu governo e de seu sucessor. Considerando ainda uma dívida de R$ 5.342. 359. 887,16 com a CEMIG (que veio a público recentemente) e a atualização da anteriormente citada, chega-se a cifras absurdas. Sempre omitidas nas imprecações do senador mineiro.

O professor Flávio Constantino, esse sim economista e pesquisador, em artigo publicado na imprensa mineira, mostra que a exuberância dos números médios de Minas, pós-crise de 2008, esconde uma dura realidade:
“Apesar do saldo comercial extremamente favorável, os números deixam de ser tão vistosos quando comparadas as taxas de crescimento das exportações. Na década em questão, Minas Gerais ocupa apenas a 16ª posição. Com a crise econômica, foi um dos estados que mais perderam em termos de renda, exportações e tributos. A crise, na verdade, só nos fez relembrar os riscos inerentes a especialização produtiva e comercial, nossa dependência das commodities. Até as patentes registradas pelos mineiros estão fortemente concentradas no setor mínerometalúrgico.”
Na sua opinião, Minas Gerais chega em 2011 ostentando uma década perdida, em termos de posicionamento estratégico na economia: 40% das divisas arrecadadas pelo estado vem da exportação de minério e café! Ou seja, isso é algo que há 200 anos garante o dinamismo ou estagnação da economia regional.

Essa análise, a indicação das fontes e as conclusões constam do informativo eletrônico nº 15, de maio de 2011, do Minas Sem Censura (www.minassemcensura.com.br).

Aécio, em seus 16 anos como deputado federal, não registra nenhuma iniciativa sua, em termos de política de fomento industrial, qualificação profissional, fortalecimento da pesquisa, inovação etc. Assim, quando falar de números e estatísticas ele deveria lembrar que de te fabula narratus.*

Finalmente, tivesse o senador mineiro compromisso no tratamento adequado dos números, poderia ele fazer também o mesmo ranking para o ano de 2002: último da gestão de FHC, no qual ele era o presidente da Câmara de Deputados. Mas ele sabe que se assim o fizesse, a verdade da tragédia tucana viria à tona.


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* É de ti que trata essa história.


Fonte: Blog Minas Sem Censura

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